Robert Menezes
A expressão “Pensamento Lateral” criada por Edward de Bono representa uma abordagem sistemática ao pensamento criativo, fazendo uso de técnicas que podem ser utilizadas de forma deliberada. As ferramentas desta abordagem são baseadas diretamente no comportamento do cérebro humano: o comportamento das redes neurais. De Bono apresentou o comportamento auto-organizável das redes neurais no seu livro O Mecanismo da Mente em 1969. Posteriormente publicou também o livro I Am Right You Are Wrong, obtendo o reconhecimento internacional pelo seu trabalho. Simplificando o assunto, o Pensamento Lateral está baseado na ruptura de percepções que o modelo auto-organizável do cérebro desenvolve. Como a chuva que cai e determina os leitos dos rios, fazendo com que as águas provenientes de chuvas futuras sigam os caminhos definidos pela primeira chuva, o sistema auto-organizável do cérebro estabelece uma seqüência de atividades com as primeiras informações que chegam e com o tempo essa seqüência passa a ser uma espécie de caminho preferido. O cérebro desenvolve com muita facilidade o processo de reconhecimento de padrões. Para qualquer coisa que olharmos, estamos prontos para ver o mundo conforme esses padrões. Assim, estamos prontos para ver apenas aquilo que está preparado para ser visto, conforme percepções já consagradas pela mente. Os padrões estabelecidos pelo cérebro são de utilidade, visto que permitem o reconhecimento de coisas. Estudar um novo idioma, por exemplo, é um processo repetitivo de aprendizagem em que a memória e as percepções podem ser usadas como ferramentas extraordinárias da mente. Você não precisa inventar uma nova gramática porque ela já existe. O processo automático de reconhecimento de padrões é de grande utilidade prática. Você pode agir de forma rápida, sem necessidade de desenvolver hipóteses ou de permanecer em estado de dúvida na solução de pequenos problemas. Imagine que você está lendo um romance e surge a palavra “cadeira”. O que pensa você sobre esse objeto tão familiar? Claro, que de imediato, surge a imagem de alguma coisa em madeira ou outro material que tradicionalmente é usado na fabricação de cadeiras. Acrescente agora a forma, a cor, o tamanho e outros atributos. Finalmente, imagino que você tenha pensado numa cadeira de quatro pernas porque é este o modelo mais tradicional. O reconhecimento do padrão de quatro pernas é quase imediato. Você poderia, por provocação, pensar numa cadeira de três pernas, o que não é comum. Uma cadeira de três pernas poderia ter mais estabilidade, por exemplo. Pensar numa cadeira de três pernas seria uma quebra de padrão. Pensar numa cadeira de três pernas seria pensar diferente, seria seguir um caminho diferente do tradicional, seria exercitar a mente para novas percepções. O Pensamento Lateral é o processo de provocar o cérebro para novas percepções. As idéias podem fluir também por caminhos laterais, nunca usados anteriormente. Os inventores sempre tiveram a seguinte pergunta em mente: “Por que não?”. Por que não uma cadeira de três pernas? Por que não uma mesa de três pernas? Se você colocar em prática este exercício de criatividade, vai descobrir coisas interessantes. No mínimo vai perceber que muitas coisas poderiam também ser diferentes. Por que não? Alguns fatos podem surpreender as pessoas pela simplicidade de solução. Às vezes, uma solução inteligente e óbvia, que, não foi percebida pela mente. A surpresa pode ser grande e levar as pessoas a fazer a seguinte pergunta: Como não pensei nisso antes? A boa piada, por exemplo, é uma forte expressão de criatividade. Pense na experiência que você teve ao ouvir uma boa piada. Ao ouvir a piada da pessoa que sabe contar, seu cérebro conduz os pensamentos pelo caminho principal. De repente, seu pensamento é desviado para o final de um caminho lateral, exatamente para um ponto em que você pode ver imediatamente o caminho que poderia ter seguido. O clímax do processo é a ruptura da seqüência tradicional de pensar, o que provoca o humor e o riso. Segundo De Bono: “A seqüência de nossa experiência estabeleceu o caminho rotineiro de percepção. Vemos as coisas de uma certa maneira. Esperamos que as coisas sejam feitas de uma determinada maneira.” Quando a seqüência é rompida, percebemos que estivemos presos por uma maneira de pensar, mas que poderíamos ter pensado de forma diferente. A maioria das pessoas imagina que a análise de dados pode gerar novas idéias. Para De Bono, essa crença está totalmente errada. A mente só pode ver aquilo que está preparada para ver. Qualquer análise de dados só capacita o analista a selecionar de seu repertório de antigas idéias, uma que seja aplicável à situação desejada. A geração de novas idéias só é possível a partir de um comportamento criativo, especulativo, curioso, cheio de suposições e hipóteses, na trilha do pensamento lateral. É necessário considerar coisas não pensadas anteriormente, é ter um comportamento rebelde e inovador. É perguntar para você mesmo: por que não? Agora que você sabe um pouco sobre o Pensamento Lateral, por que não usar essa ferramenta de criatividade em suas atividades diárias? Basta procurar caminhos laterais para a realização das coisas. Faça provocações para você mesmo. Pense de forma diferente. Veja outras possibilidades. Crie novos conceitos. Há necessidade de novos conceitos em todas as áreas do conhecimento.
Referência: DE BONO, Edward. Criatividade levada à sério: como gerar idéias produtivas através do pensamento lateral. São Paulo. Pioneira - 1994
16/06/2007
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